o raio que o parta

O movimento surge no contexto do modernismo brasileiro, uma tendência artístico-cultural que teve diversas concepções ligadas ao progresso e, no âmbito da arquitetura, uma das linguagens estéticas utilizadas para tal foi o uso de painéis compostos por azulejos em edificações, como em obras dos artistas Athos Bulcão, Cândido Portinari e Burle Marx.

No Pará, o modernismo chega com adaptações aos padrões locais, com o usos de platibandas, fachadas com lajotas cerâmicas, entre outros. Além disso, os arquitetos Ruy Meira e Alcyr Meira, foram responsáveis pela composição de diversos murais na região, utilizando azulejos inteiros e em cacos.

Sede Social Clube do Remo, Belém/PA - Alcyr Meira. Igreja da Pampulha, Belo Horizonte/MG, Cândido Portinari
Sede Social Clube do Remo, Belém/PA - Alcyr Meira. Igreja da Pampulha, Belo Horizonte/MG, Cândido Portinari

Com a contratação de arquitetos e engenheiros restrita à elite local devido aos altos custos, a população encontrou no uso de cacos de azulejos coloridos em fachadas, compondo mosaicos, uma maneira de aderir ao estilo arquitetônico moderno da época. Os painéis geralmente são compostos por cacos de azulejos coloridos, formando desenhos geométricos, como raios, bumerangues, setas, formas da natureza, entre outros.

O Raio que o Parta tornou-se um movimento expressivo no estado do Pará entre as décadas de 40 e 60 do século XX, consolidando-se como uma expressão cultural popular, presente no imaginário dos paraenses e se destacando como uma forma de resistência e inserção na modernidade.

Acervo Rede Raio que o Parta
Acervo Rede Raio que o Parta

Fonte:
COSTA, Laura Caroline. PAMPLONA, Karina. MIRANDA, Cybelle Salvador. “Raio que o parta”: o lado B do modernismo paraense.
CARVALHO, Ronaldo Marques de. MIRANDA, Cybelle Salvador. Dos mosaicos às curvas: e estética modernista na arquitetura residencial de Belém.

a rede

A Rede é criada em meio a uma inquietação diante os apagamentos e descaracterizações de casas no estilo Raio que o Parta na cidade de Belém e demais municípios do Pará e a ausência de políticas públicas de preservação para o movimento.

Em 2020, Elis Almeida, Elisa Malcher e Gabrielle Arnour, amigas que se conheceram durante a graduação de Arquitetura e Urbanismo, decidem criar o coletivo e dar início a um mapeamento e catalogação desses exemplares, para a criação de um acervo fotográfico desse movimento. Em 2022, dão origem a um perfil no Instagram para a divulgação desse material e expansão do acervo de maneira colaborativa, com o recebimento de registros dos seguidores.

O termo “Rede” tem como proposta tecer conexões de maneira colaborativa com todas as pessoas que perpetuam a história e importância do movimento, utilizando dos símbolos dos raios como memória para produção em diversos meios para fomentar a discussão sobre o tema.

Raquel Rolnik em seu livro “O que é Cidade?”, fala que ao entrar em uma cidade, a arquitetura dela nos conta uma história, identificando o seu passado e o agora, reforçando a importância da memória coletiva presente nos espaços e sua importância como registro de vida e cultura.

A Rede hoje atua com diversas ações e projetos de educação patrimonial, voltados para o debate sobre a importância do Movimento Raio que o Parta e visando fortalecer o pertencimento da população com essa arquitetura que moldou e faz parte da história dos paraenses.

Gabrielle Arnour, Elis Almeida e Elisa Malcher
Gabrielle Arnour, Elis Almeida e Elisa Malcher
Pesquisar